14 de jul. de 2009

imunização racional.

8 de jul. de 2009

rotinas.

Caruaru, 08 de Julho de 2009.

Tio,

Não levanto às pressas e nem deixo o lençol no chão do quarto. Não mais. Agora a vida começa impreterivelmente lá pelas 6hs da manha mesmo! Nem mais e nem menos 5 minutinhos. Claro que ter que fazer a barba antes de ir ao trabalho me consome no mínimo 15 minutos, que era exatamente os 3 alarmes dispersos que usava antes que a preguiça fosse finalmente superada. O tempo mudou, diminuiu. Ficou um tom mais sério na expressão do meu rosto, dizem. Há quem ache que eu ando mais calado que o de costume, exceto quando aqueles goles de cerveja desprendem risadas e conversas inúteis. Ou eu mudei o tempo ou o tempo me mudou, ou, ou, ou...

Agora eu entro no carro, e corro como na musica do Rei que fala da “Estrada de Santos”. Horários a serem cumpridos, os minutos que não existem mais, passam lentamente enquanto o sinal não fica verde e posso finalmente avançar. Deixo a minha casa, e algumas coisas que eu amo, meus irmãos, a velha, os livros do meu quarto comprados e alguns nunca lidos, e o cachorrinho – que este eu sei que espera ansioso pela minha volta e me recepciona com patas sujas – como nas propagandas de margarina dos anos 80. Era bem diferente há algum tempo atrás. Papai batia na porta do meu quarto, berrando, já que meus ouvidos já tinham se habituado ao toque do despertador, colocava meu par de tênis, escovava os dentes e mais nada. O boné caia bem. Era vida de estagiário, de ‘filho de papai’. O salário era convertido em viagens, e uma pequena parcela, pode-se dizer que me aproximava da minha família quando gastava com ligações telefônicas durantes as festas e as viagens infindáveis. Era sempre um teatro, um show, um cinema. Tinha também às noites com violão, os acampamentos, a praia, o mar. As noites de vodkas e cervejas, as reflexões mais belas sobre a vida e seus desdobramentos fluíam com o álcool. O tempo quando encurta, me parece retrair aos meus primórdios, onde ficar em casa era quase que impositivo. Menino de 13 anos não sai sozinho, não tem a chave da casa. Meu tempo curto me devolveu a ânsia pela família, minhas viagens não são mais pensadas sem a companhia dela, e nem meu salário em viagens de final de semana. Agora o troféu dessa rotina diária é a conversa nas refeições, os silencio entre uma garfada e outra. O riso no rosto de minhas irmãs, ou a vaidade da minha mãe quando sai pro salão de beleza. Eu realmente só sei que isso é que me dá prazer: a solidariedade na saudade. E em cada minuto encurtado, cada dia alcançado diminui a distancia entre alguma coisa que eu ainda não sei o que é. Não me interesso saber também. Talvez porque no fundo o que todo ser humano precisa é de uma rotina que te leva a realizar algum desejo que apenas se aponta no momento final. E vou seguindo ‘dia-após-dia’, sem grandes metas e sem grandes sonhos, até que essa vida mostre alguma coisa, se é que existe, mais instigante que amar o que já se tem, e o que não existe mais.

Um abraço,

Danilo.